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Fóruns de discussão de assuntos profissionais dos Técnicos Oficiais de Contas

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

OPINANÇO ACTIVOS BIOLÓGICOS ÁRVORES EM PÉ MENSURAÇÃO E ABATES

 


 

ACTIVOS BIOLÓGICOS

ÁRVORES EM PÉ

MENSURAÇÃO E ABATES

(Nota: Há ligações nas referências que pretendo destacar, para quem quiser aprofundar, existindo detalhes de espécies, história, etc)

 

O Professor Carlos Lobo, num evento realizado em meados do mês passado, abordou um assunto, que me é muito querido, porque trabalho há 40 anos no sector viveirista:

O reconhecimento das perdas dos incêndios (no exemplo dado, o Parque da Peneda- Gerês) nas contas das entidades públicas, à luz das regras do SNC AP, ou melhor na ausência destes factos, quando não há o sistema implantado como está previsto.

Isso leva-me a estas notas de opinião, face a situações de menor impacto, mas que não vejo o tema tratado, bem como a mensuração em si.

Sabemos que no sector Público a mudança de sistema, implica algumas situações que são um bico-de-obra, quando se trata de arruamentos, infraestruturas de todo o tipo, antes das “facturas” e da contração pública, ou quando nestes activos se perderam nos tempos, os seus custos históricos.

Mas o assunto levantado pelo Professor em concreto: Activos Biológicos, floresta, ou no caso das cidades, a floresta urbana, fora do âmbito dos incêndios, abordo o caso da cidade que melhor conheço e onde nasci.

No Porto coexistem os 3 sectores previstos na CRP, em matéria de Floresta Urbana:

No sector Privado, dou como exemplo a Quinta Villar D’Allen, que agora volta a ser do Concelho do Porto, e em cuja quinta há espécies exóticas e centenárias;

No Sector Cooperativo e Social, destaco Serralves e os seus 18 hectares, projectado nos anos 30 do século passado pelo Arq.Jacques Gréber, e que contou com o fornecimento, na época, de várias espécies pela entidade onde presto os meus serviços.

Destaco ainda, neste sector os espaços da Santa Casa da Misericórdia do Porto, quer os 10 hectares do hospital Conde Ferreira, uma doação específica de Joaquim Ferreira dos Santos, homem que fez a sua fortuna no tráfico de escravos, entre a África e as Américas,  quer o que resta da Quinta da Prelada, aqui já uma doação de Luzia Joaquina Bruce e que ia da estação de metro da Avenida de França, até ao outro lado da VCI, onde funcionou o parque de campismo, entre muitas doações desta senhora, viúva de João António Lima, que fez fortuna no Brasil, obviamente tirando partido da escravatura, embora a D. Luzia fosse filha de mãe africana e de colono holandês.

 

Finalmente do sector Público, ou melhor a grande fatia do “bolo”:

- o Jardim Botânico, um legado que nos deixou o avô de Sophia de Mello Breyner Andresen, que criou aquele magnífico jardim, mandando vir espécies em raiz nua, dos 4 cantos do mundo, espaço que está sob alçada da Universidade do Porto;

E os restantes da Câmara Municipal, através do seu departamento de Parques e Jardins (onde estão também os 2 cemitérios) com os seus 455 hectares e que em breve terão mais cerca de 160 e destes destaco o mais antigo: O Jardim  de S. Lázaro, e o Parque Ocidental ou Parque da Cidade, este que num espaço de 40 anos, viu as suas árvores, crescerem, uma vez que, tirando a frente que dá para a Avenida, que levou já espécies um pouco maiores, tudo o resto foi fruto de plantas envasadas ou em raiz nua.

Também aqui a entidade para quem trabalho, foi um dos muitos fornecedores

Destaco ainda;

Palácio de Cristal

Jardim do Carregal

Quinta do Covelo

Árvores de Cedofeita: segredos bem guardados

 

Os 10 hectares do

Cemitério do Prado do Repouso e

Cemitério de Agramonte, especialmente no primeiro com os seus ciprestes, que como têm raiz vertical, são as espécies mais indicadas para estes espaços, uma vez que os plátanos, causam danos nas sepulturas mais próximas. Os ciprestes possuem ainda um agradável perfume, e como estão erectos, apontam para o divino. Os cemitérios públicos em Portugal, são espaços mistos, isto é, têm a grande parte benzida para efeitos católicos e espaços não benzido, para as restantes crenças ou para ateus e agnósticos.

 

Também se pode colocar o problema do transplante como aconteceu com esta magnólia, que para além do elevado custo – que foi suportado pela obra do Metro – corre-se sempre o risco de acontecer o pior: a morte prematura.

Magnólia que fazia companhia ao Ardina também deixou a Praça da Liberdade

Vamos então aos pequenos casos como a inclusão desta magnólia, que passou de uma praça pública para um Jardim devidamente delimitado. Como mensurar estas troca de espaço?

Como abater as árvores, quando a tempestade as derruba? Aqui será simples porque a morte é imediata.

E no caso das árvores infetadas que implica o seu abate, antes que façam mais propagações?

E no caso de após análise, sobretudo aquando das podas periódicas, se concluir que devam ser abatidas antes que um temporal cause estragos?

E quando deve ser feito este reconhecimento? No auto de análise ou no momento do derrube?

Claro, que quem é desta área já percebeu onde quero chegar. Quando os viveiristas têm de queimar árvores por intimação da Ministério da Agricultura, devido a pragas detectadas, a AT aparece para assistir ao arranque e à queima, bem como quando se chega à conclusão que  ultrapassaram os tamanhos comercializáveis e por isso mesmo deixam de ser vendáveis.

Apesar de aparecerem e assistirem entendem que o “momento” do abate é apenas quando se faz o arranque e não quando de facto perderam “valor”. O que é uma contradição, como se estivessem perante eletrodomésticos, ou roupa, por exemplo. E mesmo aqui, há muito se aceita a perda de valor, mesmo antes do momento em que estas mercadorias saem do inventário.

Se no sector público há que reconhecer quer a perda pelos incêndios, quer as quedas nas tempestades ou nos inevitáveis abates, torna-se obrigatório que existam entidades que, e em primeiro lugar criem regras comuns de mensuração, quer no espaço florestal, quer no espaço urbano de modo a que uma magnólia não seja mensurada por 50, numa cidade e por 5000 noutra. Criando uma espécie de “mercado” apesar de nada disto ser “vendável”.

E se na floresta, se  deve registar por lotes do estilo: “n” quantidades de cada espécie por m2, já nos parques e jardins públicos deveria ser árvore a árvore, pelas razões que invoquei, quanto aos abates necessários.

Na mensuração há ainda que ter em conta os anos de crescimento e depois, quando já com portes normais, a sua antiguidade.

Não esquecer que como ser vivos, nascem, crescem e morrem, sabendo que podem viver dezenas e centenas de anos.

Nestas entidades, que deviam estar na alçada da CNC e do seu comité para o sector público, deveriam ter assento, Biólogos, Engenheiros Silvicultores, Agrónomos, técnicos agrários e especialistas em Jardins, como os respetivos Arquitetos, sejam docentes nos Institutos Agrónomos ou responsáveis nas Câmaras pelos Jardins e Parques e claro, os Responsáveis Florestais das várias entidades do sector.   

 

Claro que os efeitos das árvores na qualidade da vida nas cidades e nos campos, bem como exemplos como este, já são mais a nível dos benefícios e não na sua mensuração.

Floresta terapêutica: Mata do Bussaco vai ter estatuto único na Península Ibérica

 

Na minha opinião, não basta tocar no assunto, há que mergulhar e começá-lo a resolver, quer a nível da CNC, quer até a nível da OCC.

Não basta reclamar alçada sob o Contabilista Público e depois só ter as parcas formações para o Público como as que existem.

Novembro de 2024

 

 

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