ACTIVOS BIOLÓGICOS
ÁRVORES EM PÉ
MENSURAÇÃO E ABATES
(Nota: Há ligações nas referências que pretendo destacar,
para quem quiser aprofundar, existindo detalhes de espécies, história, etc)
O
Professor Carlos Lobo, num evento realizado em meados do mês passado, abordou
um assunto, que me é muito querido, porque trabalho há 40 anos no sector
viveirista:
O
reconhecimento das perdas dos incêndios (no exemplo dado, o Parque da Peneda-
Gerês) nas contas das entidades públicas, à luz das regras do SNC AP, ou melhor
na ausência destes factos, quando não há o sistema implantado como está
previsto.
Isso
leva-me a estas notas de opinião, face a situações de menor impacto, mas que
não vejo o tema tratado, bem como a mensuração em si.
Sabemos
que no sector Público a mudança de sistema, implica algumas situações que são
um bico-de-obra, quando se trata de arruamentos, infraestruturas de todo o
tipo, antes das “facturas” e da contração pública, ou quando nestes activos se
perderam nos tempos, os seus custos históricos.
Mas
o assunto levantado pelo Professor em concreto: Activos Biológicos, floresta,
ou no caso das cidades, a floresta urbana, fora do âmbito dos incêndios, abordo
o caso da cidade que melhor conheço e onde nasci.
No
Porto coexistem os 3 sectores previstos na CRP, em matéria de Floresta Urbana:
No
sector Privado, dou como exemplo a Quinta
Villar D’Allen, que agora volta a ser do Concelho do Porto, e em cuja
quinta há espécies exóticas e centenárias;
No
Sector Cooperativo e Social, destaco
Serralves e os seus 18 hectares, projectado nos anos 30 do século passado
pelo Arq.Jacques Gréber, e que contou com o fornecimento, na época, de várias
espécies pela entidade onde presto os meus serviços.
Destaco
ainda, neste sector os espaços da Santa Casa da Misericórdia do Porto, quer os
10 hectares do hospital Conde
Ferreira, uma doação específica de Joaquim
Ferreira dos Santos, homem que fez a sua fortuna no tráfico de escravos,
entre a África e as Américas, quer o que
resta da Quinta da
Prelada, aqui já uma doação de Luzia Joaquina
Bruce e que ia da estação de metro da Avenida de França, até ao outro lado
da VCI, onde funcionou o parque de campismo, entre muitas doações desta senhora,
viúva de João António Lima, que fez fortuna no Brasil, obviamente tirando
partido da escravatura, embora a D. Luzia fosse filha de mãe africana e de
colono holandês.
Finalmente
do sector Público, ou melhor a grande fatia do “bolo”:
-
o Jardim Botânico,
um legado que nos deixou o avô de Sophia de Mello Breyner Andresen, que criou
aquele magnífico jardim, mandando vir espécies em raiz nua, dos 4 cantos do
mundo, espaço que está sob alçada da Universidade do Porto;
E
os restantes da Câmara Municipal, através do seu departamento de Parques e
Jardins (onde estão também os 2 cemitérios) com os seus 455 hectares e
que em breve terão mais cerca de 160 e destes destaco o mais antigo: O Jardim de S. Lázaro, e o Parque Ocidental ou Parque
da Cidade, este que num espaço de 40 anos, viu as suas árvores, crescerem,
uma vez que, tirando a frente que dá para a Avenida, que levou já espécies um
pouco maiores, tudo o resto foi fruto de plantas envasadas ou em raiz nua.
Também
aqui a entidade para quem trabalho, foi um dos muitos fornecedores
Destaco
ainda;
Árvores
de Cedofeita: segredos bem guardados –
Os
10 hectares do
Cemitério
do Prado do Repouso e
Cemitério
de Agramonte, especialmente no primeiro com os seus ciprestes, que como têm
raiz vertical, são as espécies mais indicadas para estes espaços, uma vez que
os plátanos, causam danos nas sepulturas mais próximas. Os ciprestes possuem
ainda um agradável perfume, e como estão erectos, apontam para o divino. Os
cemitérios públicos em Portugal, são espaços mistos, isto é, têm a grande parte benzida para efeitos católicos e espaços não benzido, para as restantes
crenças ou para ateus e agnósticos.
Também
se pode colocar o problema do transplante como aconteceu com esta magnólia, que
para além do elevado custo – que foi suportado pela obra do Metro – corre-se
sempre o risco de acontecer o pior: a morte prematura.
Magnólia
que fazia companhia ao Ardina também deixou a Praça da Liberdade
Vamos
então aos pequenos casos como a inclusão desta magnólia, que passou de uma
praça pública para um Jardim devidamente delimitado. Como mensurar estas troca
de espaço?
Como
abater as árvores, quando a tempestade as derruba? Aqui será simples porque a
morte é imediata.
E
no caso das árvores infetadas que implica o seu abate, antes que façam mais propagações?
E
no caso de após análise, sobretudo aquando das podas periódicas, se concluir que
devam ser abatidas antes que um temporal cause estragos?
E
quando deve ser feito este reconhecimento? No auto de análise ou no momento do
derrube?
Claro, que quem é desta área já percebeu onde quero chegar. Quando os viveiristas têm de queimar árvores por intimação da Ministério da Agricultura, devido a pragas detectadas, a AT aparece para assistir ao arranque e à queima, bem como quando se chega à conclusão que ultrapassaram os tamanhos comercializáveis e por isso mesmo deixam de ser vendáveis.
Apesar
de aparecerem e assistirem entendem que o “momento” do abate é apenas quando se
faz o arranque e não quando de facto perderam “valor”. O que é uma contradição,
como se estivessem perante eletrodomésticos, ou roupa, por exemplo. E mesmo
aqui, há muito se aceita a perda de valor, mesmo antes do momento em que estas
mercadorias saem do inventário.
Se
no sector público há que reconhecer quer a perda pelos incêndios, quer as
quedas nas tempestades ou nos inevitáveis abates, torna-se obrigatório que
existam entidades que, e em primeiro lugar criem regras comuns de mensuração,
quer no espaço florestal, quer no espaço urbano de modo a que uma magnólia não
seja mensurada por 50, numa cidade e por 5000 noutra. Criando uma espécie de “mercado”
apesar de nada disto ser “vendável”.
E
se na floresta, se deve registar por lotes do estilo: “n” quantidades de
cada espécie por m2, já nos parques e jardins públicos deveria ser árvore a árvore,
pelas razões que invoquei, quanto aos abates necessários.
Na
mensuração há ainda que ter em conta os anos de crescimento e depois, quando já
com portes normais, a sua antiguidade.
Não
esquecer que como ser vivos, nascem, crescem e morrem, sabendo que podem viver dezenas
e centenas de anos.
Nestas
entidades, que deviam estar na alçada da CNC e do seu comité para o sector
público, deveriam ter assento, Biólogos, Engenheiros Silvicultores, Agrónomos, técnicos
agrários e especialistas em Jardins, como os respetivos Arquitetos, sejam
docentes nos Institutos Agrónomos ou responsáveis nas Câmaras pelos Jardins e
Parques e claro, os Responsáveis Florestais das várias entidades do sector.
Claro
que os efeitos das árvores na qualidade da vida nas cidades e nos campos, bem
como exemplos como este, já são mais a nível dos benefícios e não na sua
mensuração.
Floresta
terapêutica: Mata do Bussaco vai ter estatuto único na Península Ibérica
Na
minha opinião, não basta tocar no assunto, há que mergulhar e começá-lo a
resolver, quer a nível da CNC, quer até a nível da OCC.
Não
basta reclamar alçada sob o Contabilista Público e depois só ter as parcas
formações para o Público como as que existem.
Novembro
de 2024
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