Comunidade TOC

Comunidade TOC
Fóruns de discussão de assuntos profissionais dos Técnicos Oficiais de Contas

domingo, 4 de setembro de 2022

AINDA O ACIDENTE NA A6, EM JUNHO DE 2021, DESPIDO DA LEITURA POLÍTICA DA VIATURA ENVOLVIDA E PELA BITOLA DA SEGURANÇA DESTAS INTERVENÇÕES NAS NOSSAS AUTOESTRADAS.

 


Como profissional que esteve envolvido com duas entidades nos últimos 7 anos, que fazem estes trabalhos, o relatório da ACT, cujos excertos foram publicados no DN em junho passado, leva-me a dar este contributo, para um debate que se esperaria que tivesse sido feito para evitar novos casos.

Como ponto prévio, gostaria de lembrar que as roçadoras que são utilizadas nestes trabalhos, para além de uma vida útil curta, consomem uma elevada quantidade de “discos” provocados pelo constante toque nas pedras e que isso provoca um elevado número de acidentes com os para-brisas e outros vidros das viaturas, quando estas passam nos locais onde estes trabalhos estão a ser feitos.

Ao longo desses 7 anos foram dezenas as faturas pagas com danos nos para-brisas, que pela franquia, implicava a nega dos seguros, para além do acionar a apólice quando havia danos na chaparia (isto se os condutores fizessem a ligação aos trabalhos na berma), para além de uma vítima mortal, desconhecendo o assunto em concreto, mas que foi num dos trabalhos na berma.

Em agosto do ano passado, ao entrar na ponte do Freixo, vindo da Rotunda, reparei que havia uma intervenção junto aos railes, o que me fez pensar que aquele fulano vai me foder o vidro…

Porém ao entrar na mini faixa de aceleração, esta estava bloqueada com uma viatura da PSP e mais à frente outra acidentada (para-brisas) e com a condutora em estado de choque… deu-me vontade de parar, mas isso seria por em causa a minha segurança e de outrem. O trabalhador estava impávido e sereno, como quem nada tinha a ver com o assunto.

Do artigo no DN, é possível retirar a passagem da NT 039.16 [nota técnica da Brisa intitulada "Identificação dos riscos inerentes à autoestrada, aberta ao trânsito, para a realização de trabalhos de controlo de vegetação",

 os trabalhadores apeados envolvidos em trabalhos móveis, como os que se encontravam a decorrer na zona adjacente à plataforma e berma direita da autoestrada, devem encontrar-se permanentemente protegidos por veículos de proteção e sinalização."

 

Em primeiro lugar qualquer tipo de acidente deveria ser sempre acionado pela Brisa (mesmo a Brisa e não as empresas que contratam as entidades que fazem as limpezas nas bermas, e que são do grupo BRISA) para que os automobilistas saibam a quem se devem dirigir, de modo a existir estatística sobre estes acidentes. E depois esta ser ressarcida pelas seguradoras das entidades que contratarem e que são as responsáveis pelos acidentes.

Mesmo nos Mortais, como o que aconteceu com a entidade para quem trabalhava e neste da A6, as participações foram das entidades contratadas.

Assim a BRISA teria uma visão da realidade, que mesmo que tenha de lhe ser comunicada fica sempre a dúvida se lhe fazem.

Em segundo lugar a tal “Obras devidamente sinalizadas”, não passa de uma viatura com dois pirilampos amarelos e um sinal nas traseiras e pasme-se pode ser uma viatura qualquer, quer numa, quer noutra entidade, para quem trabalhei, foram usadas viaturas emprestadas/alugadas, etc, quando o parque próprio estava indisponível para reparações.

Assim e pela norma da Brisa, esta viatura terá que estar a 50 metros antes da equipa de trabalho e os seus trabalhadores não podem abandonar a zona de intervenção, que é a berma.

Se na A1, por exemplo, nos painéis luminosos há uma informação de trabalhos na berma, já nos casos como na A6, a “obra devidamente sinalizada” fica-se pela viatura a 50 metros.

Sobretudo na primeira entidade para quem trabalhei, havia o recurso a contração de uma empresa de trabalho temporário e que aliado à constante entrada e saída de trabalhadores, julgo que não dão garantias que previamente a serem exposto a um ambiente perigoso, como é este tipo de intervenção com as autoestradas abertas ao trânsito e com uma grande fragilidade de segurança com estes trabalhadores.

Este acidente na A6, coloca também um outro problema com a satisfação das necessidades fisiológicas, e como pode ser visto na notícia, quando o controle da Brisa passou pouco antes do meio-dia a equipa já lá não estava, e o acidente ocorreu pouco depois da uma da tarde.

Para além de não ser possível colocar uma retrete móvel por razões óbvias, não basta que se sugira que urinar ou defecar se faça na berma, numa zona mais interior de modo a garantia a privacidade necessária, também apenas uma hora reservada para almoço é por si só insuficiente para esse momento de privacidade que numa obra de maior dimensão está assente que tem de existir.

 

Creio que seria necessário:

1 – Mesmo onde há sinalização luminosa, deveria estar antes da viatura da entidade que faz a limpeza, uma viatura da BRISA, alertando para a intervenção;

2 – A velocidade deveria ser drasticamente reduzida durante a passagem pelo local, uma vez que a acreditar na velocidade calculada no acidente da A6 (não são só os ministros que andam a 160) bastaria uma quebra do para-brisas para poder existir um despiste e até vítimas mortais;

3 – As viaturas deveriam a partir daí, circular na faixa da esquerda e não da direita, para evitarem colher os trabalhadores que possam estar na berma e estar um pouco mais longe do efeito das pedras que são atiradas nestes trabalhos;

4 – A formação profissional destes trabalhadores deveria ser certificada e confirmada previamente pela BRISA, sendo esta responsabilizada pela ACT, em caso de acidente e em caso de fiscalização.

5 – Sim fica tudo mais caro, mas a segurança quer dos trabalhadores, quer dos ocupantes das viaturas que circulam, está em primeiro lugar.

Agora que leram isto e independente de discordarem ou concordarem, pensem que em vez de um Ministro, podia ter sido CONSIGO!

 

Já quanto a qualquer viatura do estado, PR, PM, Ministros, PSP, GNR PJ, etc, deviam estar munidos de tacógrafos e câmaras de vigilância, a implementar de cima para baixo, ou seja, pelos cargos mais altos.

 .

 artigo no DN