Comunidade TOC

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Fóruns de discussão de assuntos profissionais dos Técnicos Oficiais de Contas

sábado, 24 de novembro de 2007

Tio Eduardo Lourenço Domingues.

Hoje, 24 de Novembro de 2007, faz 35 anos que faleceu, no Brasil, o meu tio Eduardo.

Há dias a minha prima Graça enviou-me o texto publicado mais abaixo.
Publico-o, bem como a minha resposta na altura, como forma de singela homenagem:

"Prima Graça
Quando li a parte sobre o barco, lembrei dos AMORES NOS TEMPOS DE COLERA do GABRIEL GARCIA MARQUES, e d'A SELVA de FERREIRA de CASTRO. Se os conheces sabes do que falo.

E veja só a TIA AIDA foi durante 20 e tal anos doadora de sangue, ainda por cima com o mais raro ORh negativo ( O Universal).

Termino mandando um beijo ao Tio Eduardo, à Tia Omar e aos meus sete primos, ( onde quer que cada um esteja, certamente recebê-lo-ão )

Primo António"


....



"Os meus irmãos, que vivem lá em Rondônia, receberam um pedido para que fosse escrito alguma coisa a respeito do papai, uma vez que está sendo elaborada uma proposta para colocar o nome dele em uma das ruas da cidade, mas que para isso é preciso apresentar uma justificativa na Câmara Municipal de Guajará-Mirim. Eu fui a eleita para escrever o texto. Tentei fazê-lo com bastante objetividade, considerando a finalidade do trabalho. É claro que eu teria muito mais a dizer, mas ...

Aqui vai uma cópia para que vocês saibam, também, um pouquinho sobre essa figura maravilhosa que foi meu pai. "


BIOGRAFIA

Aos 05 dias do mês de outubro de 1922, nascia em Valença do Minho, Portugal, um menino, a quem deram o nome de Eduardo Lourenço Domingues. Até seus 10 anos de idade usufruiu da companhia de sua mãe Maria das Dores Domingues, mas após perdê-la, em fevereiro de 1933, passou a conviver com Maria da Graça Alves, sua tia. Eduardo foi o terceiro filho de Maria das Dores. Ao nascer já tinha como irmãos Joaquim e Alberto e só muito depois é que chegou Aida, sua irmãzinha, a qual dedicou sua atenção, o seu carinho e parte de seu tempo.

A criança cresce e torna-se um homem corajoso, amante da liberdade e com grande senso de justiça, fazendo-o discordar, portanto, do modelo de sociedade imposto pela ditadura de Salazar ao seu tão querido Portugal . Resolve então migrar para outras terras, passando, primeiramente, em Moçambique, continente africano, onde fez uma breve parada. Logo depois, segue para o Brasil, chegando ao Rio de Janeiro no início da década de 50, onde trabalhou na Fábrica da Cervejaria Bhrama.

Pouco tempo depois, sabendo residir em Guajará-Mirim (RO) o seu tio Manoel António Domingues e podendo desfrutar também da companhia de seu irmão Alberto que, nessa época, também por lá se encontrava, dirige-se a essa localidade para verificar o que o futuro poderia estar lhe reservando. Ora pois, não é que aquele lugarzinho possuía algumas características de sua terra natal! Um lugar pequeno, um rio a separá-lo de um outro país, cuja língua era o espanhol! Valença também ficava à beira de um rio e este rio era o Minho e fazia fronteira com a cidade de Tuí, cujo país era a Espanha. Bela surpresa!

Para completar o encantamento, enamora-se de uma jovem muito recatada chamada Omar e com ela, em maio de 1954, sela a sua promessa de amor, constituindo uma bela família, sete filhos, que passam a ser a razão maior de sua vida. Por eles, e sempre por eles, exerce e executa com bravura algumas atividades profissionais para as quais nunca tivera nenhuma preparação: comerciante, transportando mercadorias ao longo dos rios, em um barco conhecido à época como “Regatão”; proprietário e tripulante de um barco - “catraia” – que transportava passageiros entre Guajará – Mirim (RO), Brasil e Guayaramerim, Bolívia; participante ativo na abertura de estradas vicinais na região denominada “Palheta”; e comerciário, por um longo período, prestando serviços à empresa PROBRAS – Produtos Brasileiros.

Era um homem apaixonado pela vida, impulsivo, emotivo, amigo, solidário, caridoso, responsável. Uma de suas maneiras de se sentir mais próximo do próximo era sendo DOADOR DE SANGUE. Por essa razão, várias vezes atravessou o rio Mamoré para colaborar com seus irmãos bolivianos, que o tratavam de “Colorado”, devido ao tom de sua pele.

Em épocas que precediam eleições, demonstrava publicamente as suas convicções políticas, realizando, inclusive, entre amigos e conhecidos, alguns discursos em defesa de uma sociedade mais justa e fraterna.

Desempenhou, por muitos anos, o cargo de Secretário do Cruzeiro Atlético Clube, buscando contribuir para o desenvolvimento sócio-recreativo-cultural da terra que abraçou como sua.

Um pai cuidadoso, amoroso, protetor, exigente, enérgico, dedicado, presente, que assistia aos filhos nos deveres escolares, e não deixava faltar a eles, o alimento, o agasalho, o remédio, a atenção. Teve uma atuação ímpar nas atividades do lar, pois auxiliava, quando necessário, nos afazeres domésticos, incluindo aí, a sua participação na cozinha, principalmente, nos pratos da culinária portuguesa. Procurou e conseguiu, junto com a grande mulher que escolheu, resolver, com diálogos e respeito, as discordâncias inerentes à convivência diária, transmitindo aos filhos, com exemplo – materno e paterno - que as divergências entre um casal podem e devem ser resolvidas sem brigas, prevalecendo a harmonia conjugal.

Faleceu em 24 de novembro de 1972, vítima de um acidente automobilístico, no trajeto que fazia do trabalho para casa, deixando mulher, filhos – Maria da Graça, Maria Silvânia, Maria da Glória, Brasiluso, Maria Cristian, Janie e José Eduardo - e um neto - André, além de seus sogros que fizeram parte de seu convívio diário, pois dependiam, também, do fruto de seu trabalho.

Maria da Graça Domingues
reeditado a 26 de Novembro de 2007

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