Comunidade TOC

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Fóruns de discussão de assuntos profissionais dos Técnicos Oficiais de Contas

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

“Ó FREGUESA! O CARAPAU* CAGOU-SE FOI?”

 

Coscuvilhem sempre!

É um DIREITO e um DEVER!

Ó FREGUESA! O CARAPAU* CAGOU-SE FOI?”

O Teatro de Marionetes do Porto, fundado pelo João Paulo Seabra Cardoso, que partiu cedo de mais, repôs a peça, VAI NO BATALHA, com um quadro de revista, dedicado ao mercado do Bolhão.
A mulherzinha da banca do peixe tem esta “deixa”, muito célebre no mercado, sempre que uma freguesa, para além coscuvilhar as guelras do pescado, se inclinava sobre ele. Se fizesse uma cara feia, a mulherzinha que o vendia, ficava furiosa pela freguesia não acatar a sua palavra de honra, em como o peixe era uma riqueza….
” Pela saúde da minha falecida mãe, que Deus lá tem, m’or”
A freguesa teria muita sorte, se a seguir não fosse brindada, por um conjunto de palavrões à maneira, por isto de duvidar da seriedade de quem está na “venda há muito ano” não é coisa assim tão simples.
Também – e até está registado no trabalho do Canto Nono, Porto a oito vozes – os homenzinhos dos táxis, sempre que um peão lhes gritava um bem audível:
OLHA A PASSADEIRA”, quando eles se “esqueciam” de dar a passagem, punham delicadamente a cabeça de fora e respondiam: “EMBRULHA-A E LEVA-A PARA CASA!”
Conta-se um episódio do VASCO SANTANA, em cena no Sá da Bandeira, se dirigiu à frente do elenco, para uma restaurante que servia um cabeça de pescada cozida divinal, cuja dona era muito malcriada e não só…
Galgando a Rua de Passos Manuel até aos Poveiros e virando para a Rua de Entre-paredes, ele chega ao restaurante que ficava na Rua entre os dois arruamentos.

À porta estava a cozinheira-proprietária de porte elevado, que reage à pergunta dele: “ ó minha senhora, aqui é que é o restaurante da mamuda?” com um sonante:
VÁ CHAMAR MAMUDA À GRANDE PUTA QUE O PARIUUUU!”
“Ó PESSOAL … VAMOS ENTRAR QUE É MESMO AQUI!
Cheguei há 40 anos a um escritório de uma cooperativa operária de produção, traumatizada por uns anos atrás ter sido alvo de desvios por parte de directores, que com mais lábia, iam receber dos clientes e agasalhavam o dinheiro. Chegaram a convencer o gerente do balcão do Borges & Irmão, a pagar-lhes em dinheiro vivo, evitando a transferência.
A falta de coscuvilhice deu nisso…
Já tinha adoptado que o tesoureiro rodava todos os anos e que era ele ou ela, que tratava do caixa e guardava a chave do cofre.
Assim, eu passei a fazer a folha do caixa diariamente (o velho conceito que passavam por lá cheques e depósitos). Todos os dias, ele ou ela, sentavam-se e conferiam o dinheiro, cheques ou vales, que eu apurava na folha.
Os pagamentos eram feitos ao dia 25 de cada mês, com os cheques assinados por dois e com as facturas ou o seu resumo na frente.
Como havia o velho método do resumo de facturas, com o recibo logo emitido, eles guardavam os originais e duplicados no cofre, e geriam as tentativas de cobrança, que quando eram mal sucedidas, voltavam os recibos à guarda deles no cofre.
Eu, por razões óbvias, nunca fui tesoureiro, embora tivesse exercido os restantes lugares da direcção.

Um dia, um dos fundadores - infelizmente já falecido – comentava com um ar trocista que o balanço e a demostração de resultados e o balancete razão, eram sempre muito certinhos, ele bem tentava somar e resomar e nunca encontrava um erro. “Mas não há uma forma de alguém
nos levar…” e sorria.
Disse-lhe que havia, se ele ao receber a factura com as 10 latas de tinta, 5 ficarem ali e outras 5 irem para a casa dele, eu tinha que aceitar a rubrica dele das 10 na factura. Porém, tal como ele estava de radar activado, quando vinham entregar uma factura de 10 resmas de papel, e ele cuscava o Chico, e “conferia” a entrega visualizando-a, completava a coscuvilhice com uma passagem no escritório e “conferia” a factura que estava no tabuleiro em cima da secretária… ou outros bisbilhotavam-no a ele….Mas, sim, podia haver uma falha…disse-lhe, se falhasse a coscuvilhice
E como cada trabalho, tinha uma ficha de obra, que ia passando de secção em secção, ficava com um quadruplicado da factura emitida, que aguardava noutro tabuleiro, que a coscuvilhice funciona-se … (olha o Lopes é incansável a bisbilhotar).
Claro que num grupo económico, onde o capital está pulverizado,ou numa Associação Pública Profissional, ou numa sociedade com 2 ou 3 sócios, era impossível bisbilhotar desta maneira.
Para isso há outras formas, mas nada que deixe de implicar o ir ver documentos, quem foram os beneficiários efectivos(ou melhor no que é possível confirmar, se é que me faço entender), que critérios, etc
Sim coscuvilhar, bisbilhotar, ou outro adjectivo que se queira usar.
Se a mulherzinha da banca do pescado no Bolhão, pode dar-se ao luxo de reagir de forma brejeira, às freguesas que gostam de confirmar pelo olfato a frescura do peixe, apregoado por ela com um :
VENHA VER FREGUUUESA! CARAPAU FREEEESQUINHO! VENHA VER ESTA RIQUEZA DOÇURA... QUANTOS KILOS, MÓR?”,
porque a banca é SÓ sua e se perder freguesia é apenas um problema dela, já o mesmo não se pode dizer, de quem está numa “banca do peixe”, que é colectiva e está lá enquanto os “donos da banca” os deixarem estar.
Por isso os Presidentes do Órgão Executivo e do Órgão Fiscalizador, não podem ficar melindrados com o facto de, no exercício dos seus direitos, os membros da instituição, irem COSCUVILHAR/BISBILHOTAR os documentos, e verem quem está na “folha de pagamentos” dos ajustes directos e dos gastos com os grandes eventos levados a cabo pelo departamento da AGIT/PROP.
Não bastam 180 ou 360 páginas, com divulgações ao rigor sobre remunerações e despesas de deslocações de membros de todos os órgãos sociais, no exercício das suas funções para que foram eleitos, se concomitantemente, um membro eleito para o órgão, ou qualquer suplente de qualquer órgão, usufruir de uma transmissão de bens ou prestação de serviços, por ajuste directo com o órgão da governação, colocando-se numa situação de falta de distanciamento necessário,para aprovar ou rejeitar um PAO ou um Relatório & Contas, na Assembleia Representativa, no qual, foi um dos beneficiários efectivos.
Claro que quem era um ferrinho a ir COSCUVILHAR no passado, agora, não necessita de ir ver o seu próprio documento de quitação, nem sequer os dos seus “compagnon de route”.
Não deixa de ser curioso, que tenha sido na base da coscuvilhice que se tenha feito uma campanha eleitoral em torno do valor de cada refeição e da escolha do menu – eu diria que fizeram muito bem em fazê-lo – estando a decisão do limite a 15€ na base desta coscuvilhice,
mas agora isso de coscuvilhice é separado em coscuvilhice BOA e coscuvilhice MÁ.
Também é sabido que os casos BPN, Banco Privado, BES, etc, foi a falta da BISBILHOTICE que “permitiu” chegarmos onde chegamos. Digamos que se o BdP, a CMVM, ou a Inspecção-geral de Finanças, fizessem mais coscuvilhice, se calhar tinha-se travado muitas das situações.
Aliás, foi na base da coscuvilhice que ontem mesmo se soube que no Novo Banco foram vendidos os imóveis muito abaixo do seu valor, a quem estava sujeito ao chamado conceito das “relações especiais” e que como é sabido… “ninguém divulga!”
Pelas suas características, de reguladores das profissões, sujeitas ao principio da UNICIDADE, as Associações Público Profissionais, tem que ter formas mais céleres para que a COSCUVILHICE ou BISBILHOTICE funcione e funcione bem, desde a concretização do que está previsto na Lei, quanto ao crivo do TRIBUNAL DE CONTAS, a outras formas mais proporcionais para os órgãos de FISCALIZAÇÃO, garantindo uma representatividade efectiva destes - muito mais importante que a maioria absoluta – passando, obviamente, pelas fiscalização efectiva dos seus membros, proporcionando condições concretas para que a nível local – agora com a era digital – se possa exercer esse DIREITO e esse DEVER. Se lhe chamarem COSCUVILHAR OU BISBILHOTAR, saciar a CURIOSIDADE ou pedir documentos para ver questões MESQUINHAS,que seja, mas que ninguém da Governação ou da Fiscalização, possa ficar DESCONFORTÁVEL com isso.
Se calhar estavam à espera de se ir confirmar se o papel higiénico era contabilizado como ferramentas e utensílios e se os rolos não consumidos ficaram em “inventário”… mas parece que causamos uma enorme desilusão e um enorme desconforto.
Pior é pensar que se está a SUSPEITAR…( questionar, pedir clareza é suspeitar?) Mas logo a seguir, quando se vai discutir o problema do exame à distância e da entrevista, a primeira coisa que se faz é suspeitar dos candidatos, das plataformas…
Uma Associação Público Profissional, não pode ainda, estar ao nível de uma agremiação Sócio-Recreativa, pelo que a organização de eventos, como encontros e festas, tem que respeitar os princípios da proporcionalidade dos meios financeiros alocados.
Ou melhor, poder fazer até pode, mas se o gasto per capita for de 30 ou 50, não é sua função apenas cobrar 10, por exemplo, se for o caso.
Relembrando e insistindo:
“Ao Conselho Directivo exige-se que clarifique, de uma vez por todas, que critérios usou para convidar tantos formadores em ambiente de trabalho por ajuste directo, sabendo-se que os selecionou nas fileiras da sua candidatura, entre membros eleitos para a ASSEMBLEIA REPRESENTATIVA e entre os suplentes que fizeram parte das suas listas, incluindo os suplentes dos restantes órgãos que ainda existem (como sabemos, já não os há no Conselho Jurisdicional).
Mais do que saber se o membro Fulano,ou o membro Beltrano, renunciou às senhas de presença a que tinha direito no valor de X, ou renunciou a y de almoço, importaria saber quem – ou por ordem de quem, na qualidade de beneficiário efectivo e prestador do serviço ou transmitente do bem – e quanto recebeu através de um ajuste directo, cujo montante é largamente superior à “perda financeira” pela via da renúncia.
Face à ausência desta divulgação, lanço um desafio aos membros eleitos para que no dia 19, no ponto dedicado à aprovação do Relatório e Contas, subam ao púlpito e façam a respectiva declaração de interesses e assumam quanto, e em que qualidade, receberam por ajuste directo na contratação de fornecimentos de bens ou prestação de serviços e que constam das contas que estão em apreciação.
Os que nada receberam podem, e devem, fazer a mesma declaração de interesses pela negativa.”
O desafio foi feito, mas ignorado.
Insisto na necessidade de aclarar o assunto aos membros, para que fique a transparência… transparente!
Quando fomos BISBILHOTAR as contas, pedimos um resumo por evento, para sabermos quanto nos ficou cada um. Os gastos deduzidos das respectivas receitas. Foi-nos amavelmente fornecido. Mas não foram divulgados
Insistimos, de novo :
GASTOS COM GRANDES EVENTOS:
Gostaria de ver divulgado e questionado os gastos com o congresso, por grandes rubricas:
quanto ficou a sala;
O directo com o programa televisivo;
Os oradores convidados, fora do tema profissional;
Quantas inscrições?
Quanta receita das inscrições?
Quantas inscrições para o jantar de gala e a receita? Qual o Gasto com este jantar?
Assim em quadro resumo.
Idem para o encontro das Caldas….
Quantos profissionais? Quantos familiares e amigos?
qual o gasto, etc
Idem para as duas festas de Natal…
Receita? Grandes Gastos? Etc”
Claro que cada um de nós, pode consultar a página 120, 131, 152 e 167… e fazer uns quadrozinhos…. Embora já falte informação que seria útil analisar:
Dos 1.200 presentes nas Caldas, quantos membros e quantos familiares destes?
Para que a bisbilhotice funcione, era necessário que:
“Espero pois, que a AR aprove uma recomendação, para que já em 2020, e relativa ao ano em curso, os membros possam consultar os documentos contabilísticos, nas sedes distritais – naturalmente, mediante marcação e com a supervisão do funcionário local – por vídeo-conferência, não só estando acessível a factura em si, bem como a autorização de pagamento e a justificação do ajuste directo, quando exista.
Naturalmente que é necessário que TODA a informação esteja vertida na factura, evitando-se as notas complementares informativas, para que a consulta, não obrigue a vários documentos para uma só operação.”
Voltando à mulherzinha da banca de peixe no Bolhão, diz-se que uma freguesa, senhora fina, mais dada a devolver respostas à altura, terá respondido ao …
“… o carapau, cagou-se, foi?’”, mantendo o nariz torcido, que…:
“isso não sei, filha, mas donde veio este carapau, devem ter a água da companhia cortada, porque este não toma banho, seguramente há 3 dias!”
“olhe minha jóia, vou optar ali pela chaputa da sua colega, que tem cá uma frescura invejável”
Da poesia ….
O Carapau
Num dia quente de verão
Passeando no Bolhão,
Essa pérola do Porto,
Uma coisa aconteceu,
E nem tu sabes ó meu,
Foi coisa a dar p’ró torto.
Caminhava p’lo mercado
Sem sequer olhar p’ró lado
Quando, mesmo à minha frente,
Vejo uma senhora fina,
Dessas que só desatina
E faz irritar a gente.
Parecendo ovos pisar
Lá se foi a abanar
Meneando suas ancas
E eu cá fiquei atenta
Olhando a fedorenta
A ver o peixe nas bancas.
Olhando para o pescado
Com o seu ar enjoado
Não olhando a vendedeira,
Levou a mão ao nariz
Num acto bem infeliz
Que não escapou à peixeira.
Diz esta educadamente,
Olhando a dama de frente:
“Que é que a incomodou?
Ó madama, com certeza,
Não me diga, que tristeza,
Que o carapau se cagou!”

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